Aruane Garzedin vive em Salvador, possui graduação em Arquitetura, mestrado em Urbanismo pela UFBA e doutorado em Artes pela Universidade de Barcelona. Através da pintura, sempre presente em sua vida, explora a relação entre sujeito e ambiente, que se expressa pelo corpo, em sua temporalidade e outros aspectos formadores da subjetividade. A cidade segue sendo uma inspiração para o seu processo de pintura em camadas que, sem esconder as anteriores, realizam uma espécie de mimese dos processos de apropriação dos muros urbanos por mensagens e signos diversos. A partir de 2015, seu trabalho artístico se estendeu à escala urbana através do grafite e da colagem. Com exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, sua última exposição individual, no Rio de Janeiro, em 2024, é parte do projeto artístico atual que busca novas experiências de relação corpo/cidade.

Aruane Garzedin é artista visual, com exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Natural de Salvador, é também arquiteta e escritora. A cidade é uma inspiração para a sua pintura que inclui corpos em movimento, signos e elementos que se superpõem, tal como nos muros da cidade, também apropriados pela artista como suportes para grafites e colagens.

Como descreveria seu estilo artístico?
Não consigo enquadrar o meu trabalho em nenhuma vertente específica, acredito em uma busca que não se encerra e na experimentação que pode levar a vários caminhos. Em minha experiência pessoal vejo que certos procedimentos e formas de expressão parecem caducar e dar lugar a outros diferentes. Gosto da gestualidade da pincelada, da materialidade das superfícies mais densas e trabalhadas com acréscimos e apagamentos, bem como do uso de linhas e manchas de forma livre. O meu trabalho tem sido figurativo até hoje, mas sem um sentido realista ou narrativo.

Quais temas prefere explorar em suas obras?
O meu universo temático pode ser definido pelas relações entre C O R P O x E S PA Ç O x T E M P O, através das quais gravitam palavras-chaves como fricção, fronteiras, limites, superposições, afetos e memórias, entre outras. A amplitude desse universo envolve aspectos da realidade social, mas também aspectos psicológicos que configuram realidades únicas, instantes fugazes, gestos, silêncios e ruídos.
Como é o seu processo criativo?
O meu processo criativo nem sempre começa no ateliê, mas num caderninho que levo comigo registrando pessoas, cenas e situações, fazendo anotações que alimentam a minha curiosidade. Eu diria que o desenho me ajuda no processo de ver, mais que a fotografia (que também uso), por me fazer permanecer mais tempo em uma imagem qualquer do cotidiano. Depois, na pintura sobre tela, por exemplo, posso começar por camadas aleatórias nas quais interfiro de modo intuitivo até surgir algo que parece ser algo a ser conseguido e ajustado. Há também situações em que parto de uma imagem existente e chego a outra, e há também imagens que já surgem prontas para serem trabalhadas na pintura.

Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?
As características da tinta acrílica fazem dela a mais adequada para o meu processo de pintura sobre tela. Gosto da secagem, que permite gestos rápidos e superposições e da transparência, que não encobre os rastros do processo. A monotipia sobre papel é uma técnica que tem me interessado cada vez mais, pelas surpresas, pelas texturas e efeitos expressivos que remetem aos efeitos do tempo sobre a matéria.
Qual é o significado da arte em sua vida?
A arte é uma forma de sensibilidade que sinto em meu corpo de artista, e que transcende para todas as esferas da vida, com uma forma de ver e interagir com o mundo. Sinto que a arte é capaz de desafiar ideias e narrativas hegemônicas e me conduzir a um lugar, muitas vezes solitário e incômodo, sobretudo em momentos de crise, mas também uma lugar onde as coisas e a vida em si adquirem um sentido mais amplo e verdadeiro.

Qual é o papel do artista na sociedade de hoje?
O artista pode ajudar a revelar aspectos às vezes ignorados pela sociedade, que ao vir à luz através da linguagem plástica podem provocar novas interações e reflexões sobre a realidade. E isso é cada vez mais necessário no mundo contemporâneo em que o desenvolvimento tecnológico tem contribuído não só para mudanças na relação espaço/tempo, mas para a automação de gestos pela captura de nossa atenção.



