Em suas obras, Enzo Arcad explora um repertório artístico que combina traços abstratos e fotografias urbanas com uma pesquisa voltada sobre tipografia, arte urbana e memória. Inspirado pelas vivências e observações da capital metropolitana, Arcad incorpora elementos visuais marcantes do ambiente urbano, como a Pichação e o Graffiti. Esses registros gráficos, frequentemente estilizados e indecifráveis para o olhar comum, refletem a perpetuação de uma linguagem visual nas ruas. Como observador e artista, conduz o público a uma escrita primordial, originada da imagem, permitindo que cada indivíduo decodifique de forma pessoal. Essa abordagem subjetiva cria uma reflexão sobre a linguagem contemporânea, destacando como imagens evocam significados únicos e coletivos.
Enzo Arcad, nascido em São Paulo em 2003, onde vive e trabalha, é bacharel em Artes Visuais pela FEBASP, atualmente trabalha como artista visual em São Paulo. Sua produção artística é plural, abrangendo fotografia, desenhos, pinturas e cerâmicas em cenários urbanos. Suas obras exploram a escrita de códigos visuais, remetendo aos primórdios da humanidade e transformando-a em uma grafia autoral.
De que maneira começou sua jornada no mundo da arte?
Bem sempre tive afeto e vontade de desenhar, desde desenhar em guardanapos de restaurante até esperar a comida, ou na escola como passatempo até o intervalo. Mas foi de fato no meu último ano do ensino médio (2019 -2020) o inicio da proliferação da Covid - 19 em que os tempos se tornaram dias. Infelizmente perdi um colega da escola pela depressão e voltei a praticar retratos para enviar para amigos e assim recebi muitos elogios pelos desenhos e mensagens de agradecimentos. Percebi que daria pra fazer arte, seja por dinheiro ou vontade, mas principalmente porque sempre vem algo novo pra explorar e pesquisar, depois de tanto tempo vivendo os dias como se fossem iguais. Quis mergulhar de vez pra isso, foi assim que decidi entrar na Belas Artes (FEBASP) a partir de lá comecei a entender e fazer minha arte e de outros artistas, tive contatos, conheci técnicas e a realidade no mundo das artes
Quais temas prefere explorar em suas obras?
Gosto de trabalhar com o tema urbano, paisagem urbana, pessoas, registros e memoria, é na rua que você acessa seu trabalho, lazer, amigos e foi lá que acessei as artes. Tenho curiosidade de saber mais sobre o meio da música e sons tanto que acabei fazendo Iniciação científica sobre paisagem sonora. Adoro pintar e desenhar com gestos e marcações, rabiscos e cores. E por conta de desenhos simples que eu fazia quando era criança comecei a trabalhar com o tema da simplicidade, como um desenho de uma figura humana (desenhos de palitinhos) conversa com a minha infância enquanto desenhava em guardanapos e que isso conduziu a uma pesquisa sobre escrita da humanidade. Trabalho também sobre cor e luz na fotografia digital em que mesclo fotografias autorias sobre determinado cenário com sua imagem negativa, mesclo o positivo com o negativo transformando numas abordagens de fotografia neutra. Tenho vários planos e pesquisas a serem exploradas, ainda bem que tenho 21 anos.
Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?
Desde que recebi uma câmera digital do meu irmão, sempre fico tirando fotografias, antes era mais de retratos de pessoas, passou a serem paisagens naturais e urbanas, e hoje já utilizo intervenções pré e depois das fotos, mesclo com pintura, grafite e colagem geralmente me baseando sobre o urbano e as pessoas que vivem. Tive contato também com a argila/cerâmica na faculdade em que o material por ser moldável e se expandir do tridimensional sempre chamou minha atenção, gostei tanto de trabalhar com esse material que acho que já fiz pelo menos 200 peças de cerâmica, e sinceramente vou fazer mais. Na pintura gosto de misturar diferentes técnicas e tintas, desse acrílico, guache e tinta óleo além de usar com frequência tinta spray.
Quem são as influências artísticas que impactaram seu trabalho?
Por se tratar da minha pesquisa sobre a linguagem da escrita, acabei conhecendo e ficando fascinado pelos trabalhos de artistas como Alexandre Orion, Augusto de Campos, Luiz 83, Mira Schendel e Keith Haring. Sendo esse último a porta de entrada para minhas referências artísticas. Inspirado pelo estilo de representação simplificada das figuras humanas, descobri Keith Haring que buscou uma linguagem visual acessível e universal, criando figuras estilizadas, contornadas por linhas grossas e com cores vibrantes, o que permitia uma rápida identificação e interpretação. Esse estilo facilitou a comunicação de temas complexos — como amor, igualdade, lutas sociais e saúde pública de uma forma compreensível para o público, tanto nas ruas de Nova York quanto em galerias. Inspirado por ele, busquei, por meio de figuras simples e dinâmicas, muitas vezes em movimento, transmitir uma energia vibrante e uma sensação de conexão. Essa abordagem foi explorada em outros trabalhos pessoais, como Monóculos (des) lembrancinhas (2023), onde relaciono esses desenhos simples, quase "ingênuos", com lembranças de um passado do qual não tenho memória consciente. Minhas retomadas de memórias começaram por volta dos 9 anos, então o trabalho explora um passado esquecido, inacessível, mas que hoje posso registrar o agora e acessar futuramente por meio de monóculos fotográficos, com fotos e desenhos de figuras de palito que evocam essa infância perdida;
Você participou de alguma exposição marcante que gostaria de compartilhar?
A primeira exposição fora do ambiente acadêmico sempre vai ser uma das mais marcantes, foi a entrada para contatos com galerias e artistas já formados e com extensa trajetória. Tive a honra de expor junto com outros três artistas na Lateral Galeria. Por ser o único que ainda não tinha contato direto com a galeria, e artista em formação acadêmica fiquei um pouco nervoso, mas com o tempo percebi que precisava melhorar muita coisa, não por receber críticas, mas sim pelo fato de ter esse privilégio de expor e conversar com os artistas e galeristas que incentivaram e dando ênfase ao crescimento rápido que estava tendo, não é com todo mundo que com 21 anos na sua primeira exposição participar como artista convidado pelo curador. Agradeço sempre pela oportunidade que tive, e de outras exposições que tive, e já agradeço pelas que vão surgir, pois só está começando.