Guilherme Martins Noé, artista visual autodidata de Santo André, SP, explora a dureza do trabalho e os impactos do capitalismo sobre os mais vulneráveis, inspirando-se em sua vivência com operários metalúrgicos. Utilizando técnicas e materiais mistos, além de suportes variados, suas obras revelam, de forma visceral, a realidade invisível dos trabalhadores, conectando o público à condição humana por trás da rotina operária. Suas criações, críticas e politizadas, mostram “carne, osso e gente” nas engrenagens industriais, com uso frequente de figuras humanas e manchas de graxa. Seu trabalho também foi tema de um artigo na revista Arte/Críticas da UNA, em Buenos Aires, onde sua abordagem inovadora e sensível foi elogiada, consolidando sua importância na cena artística contemporânea e ressaltando seu compromisso com a realidade social.
Guilherme Martins Noé, artista autodidata de Santo André, SP, retrata a dureza do trabalho e os impactos do capitalismo sobre os mais vulneráveis. Utilizando transferência, colagem e pintura, conecta o público àqueles invisíveis na sociedade. Expôs na 4ª Mostra Arte e Coletividade (galeria Oposta) e no Centro Cultural Correios RJ, e foi destaque na revista Arte/Críticas da UNA de Buenos Aires.
De que maneira começou sua jornada no mundo da arte?
Começou de forma simples e espontânea, numa tarde entediada de 2015. Eu estava ocioso na casa em que morava e resolvi comprar uma tela, tintas e pincéis. Apesar de gostar de arte desde criança, que eu me lembre, nunca havia tido contato prático com as artes visuais enquanto adulto, embora isso já pairasse em minha mente. A partir desse dia, minha jornada tornou-se contínua.
Quais temas prefere explorar em suas obras?
Busco explorar a desumanização do trabalhador e as condições de trabalho nas quais eu e grande parte dos espectadores estamos inseridos. Costumo dizer que trabalhamos para viver, mas vivemos trabalhando, pois é essa a posição em que o sistema capitalista nos coloca. Somos moldados para ser uma ferramenta produtiva que produz, mas que, muitas vezes, não tem acesso ao próprio produto.
Como é o seu processo criativo?
Meu processo criativo começa com um estalo de inspiração, algo que surge de repente e aguça minha vontade de criar. A partir daí, reúno os materiais para a construção da obra, embora goste de improvisar com elementos não convencionais, que muitas vezes trazem texturas e efeitos únicos. Além dos conceitos e mensagens que quero expressar, esse improviso abre espaço para a experimentação, transformando cada etapa do processo em uma nova descoberta e aprendizado.
Quais são suas fontes de inspiração?
Até o momento, minha principal fonte de inspiração é minha vivência em uma metalúrgica. Fora isso, acho difícil listar inspirações fixas, pois, no meu caso, elas são mutáveis e passageiras. Posso dizer que já me inspirei em uma cor ou em uma composição de cores, em uma ferramenta, em uma placa, em uma disposição de objetos ou documentos, em um formato, em outras obras e em textos. Curiosamente, nesta última semana, uma vista superior de uma mesa de cozinha desorganizada me inspirou a compor uma obra. Aproveitando a pergunta, acredito que mais incrível do que o que me inspira é o que posso inspirar nas pessoas.
Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?
Costumo utilizar tela, madeira, papel, plástico, tecido, tinta acrílica, tinta serigráfica e graxa. Em grande parte, uso transferência por cola, álcool ou solvente, além de colagem e pintura. Ultimamente, tenho explorado também composições tridimensionais com os mesmos materiais e técnicas mencionados.
Qual é o significado da arte em sua vida?
Para mim, a arte é mais que um prazer; é também uma necessidade. O desejo de criar é algo incorpóreo que envolve corpo e mente. É difícil colocar em palavras, mas sinto algo fisicamente, uma energia que se espalha. Parece clichê, mas é exatamente o que me acontece. Além disso, ao fazer arte, crio e entro no meu próprio mundo.
Que conselhos você ofereceria para artistas que estão começando?
Considero a arte abstrata e subjetiva, com possibilidades infinitas. Sendo assim, acredito que estamos em constante evolução. Dito isso, aconselho os artistas que estão começando a não parar de criar, independentemente da visibilidade ou da questão comercial. Crie sempre que puder: pesquise, experimente, expresse e pinte o que tem a dizer. Sim, haverá momentos de desânimo e descrença, mas o que seria da arte sem o drama?
Qual é o papel do artista na sociedade de hoje?
A atuação do artista é fundamental para estimular o pensamento crítico e provocar diálogos na sociedade atual. A arte é, por sua natureza, política e serve como um meio poderoso para questionar, provocar e refletir sobre questões sociais, culturais e políticas. Em um mundo globalizado, onde a informação circula a uma velocidade alucinante, o artista pode assumir a responsabilidade de se posicionar e transmitir mensagens significativas que alcancem diversas realidades. Por meio de suas obras, além da estética, os artistas têm o potencial de engajar e mobilizar, levando questões urgentes ao conhecimento de um público amplo.