Marcia Albuquerque, carioca, designer gráfica desde 1999 e artista visual em colagem desde 2011. Sua produção transita entre colagem manual, digital e assemblage, abordando a memória e o isolamento como temas centrais. A partir da fragmentação de imagens constrói narrativas que sobrepõem tempos e contextos, reinterpretando o que já existe.
"Vivo entre a reflexão e a representação – tudo pode ser tema, tudo pode ter um novo significado, tudo pode incomodar a ponto de me fazer querer olhar mais vezes. Coisas têm ímãs que te puxam. Sou puxada a todo instante – afundo e submerjo diversas vezes até que eu mesma descubra a boia, o caminho, o sentido..."
Seu processo parte do acaso. Cada composição é um mergulho na busca por imagens (e materiais), um jogo entre fragmentos e apropriações. Sua obra documenta tanto o coletivo quanto o íntimo, abrindo caminhos para novas interpretações.
"Vivo entre a reflexão e a representação – tudo pode ser tema, tudo pode ter um novo significado, tudo pode incomodar a ponto de me fazer querer olhar mais vezes. Coisas têm ímãs que te puxam. Sou puxada a todo instante – afundo e submerjo diversas vezes até que eu mesma descubra a boia, o caminho, o sentido..."
Seu processo parte do acaso. Cada composição é um mergulho na busca por imagens (e materiais), um jogo entre fragmentos e apropriações. Sua obra documenta tanto o coletivo quanto o íntimo, abrindo caminhos para novas interpretações.

Marcia Albuquerque, formada em Design Gráfico no Brasil, trabalha como artista visual em colagem desde 2011 e como designer desde 1999. Sua produção explora a fragmentação de imagens para criar narrativas que representem o tempo, a memória e a solidão. "As "coisas" têm imãs que te puxam. Sou puxada a todo o instante - afundo e submerjo diversas vezes até que eu mesma descubra a boia, o caminho".

De que maneira começou sua jornada no mundo da arte?
Sempre tive contato com arte. Desde criança fui estimulada. Fui criada por uma tia avó, a Nina, uma médica, ávida leitora, amante dos livros e das artes. Entrei para o balé aos 3 anos e saí aos 18. Comecei o piano aos 8, passei pelo violão, flauta... e hoje estou louca para tocar pandeiro srsrs. Quando fiz faculdade, foi natural optar por Desenho Industrial (na época esse era o nome), embora eu também já quisesse ter sido lavadeira, arqueóloga, bióloga e paisagista, arquiteta... A colagem veio observando minha mãe forrar com páginas de National Geographics, latões de tinta de parede para usar como depósito para os sapatos das crianças, éramos 3 filhos. Na adolescência eu forrava as capas dos cadernos com recortes, todas as adolescentes faziam isso na época. Quase adulta, “roubava” páginas de revistas dos consultórios médicos, tinha pavor que me pegassem ou que ao pedir, as enfermeiras não me deixassem retirar as páginas... aliás sempre “canibalizei” revistas e gastava toda a minha mesada na banca de jornal. Retomei a colagem já adulta, por volta de 2010/11. Alguns anos depois conheci meu marido – Mauricio Planel, também colagista, e a partir daí tudo em casa respira colagem.
A arte foi uma linguagem que sempre me pareceu natural, assim como ler, escrever, comer, respirar, a arte fez parte, organicamente, no meu modo de vida e na organização espacial das coisas sob o meu olhar. Essa "ambiência artística" me parece ter sido um fator de muita influência.
A arte foi uma linguagem que sempre me pareceu natural, assim como ler, escrever, comer, respirar, a arte fez parte, organicamente, no meu modo de vida e na organização espacial das coisas sob o meu olhar. Essa "ambiência artística" me parece ter sido um fator de muita influência.

Quais temas prefere explorar em suas obras?
Eu achava que meus temas fossem o que eu estivesse vendo no momento, mas depois que você faz uma atividade por um tempo logo, percebe uma confluência de atenção para determinados temas. É uma construção que acontece com o fazer e não com o planejamento. Analisando dessa forma, vejo que desde sempre meus trabalhos resultavam em imagens que remetiam à “memória” e a “solidão”.
Participei, em 2016, de uma exposição (que devo falar mais na frente) que foi muito emblemática pra mim. Foi em Paraty, com o coletivo Colagistas Sin Fronteras (que reunia colagistas do Brasil, Uruguai e Argentina) e cujo tema era “O Outro”. Eu desenvolvi uma série de 7 obras, impressas em A2, que se chamava “A fronteira da memória e a subversão da ponte” onde eu abordava a perda da memória ligando elementos separados entre si, por pontes. Levei 1 ano fazendo essa série. Ela veio da gigantesca perda de memória da tia avó que eu mencionei acima e que veio a falecer alguns anos depois. Essa senhora sempre teve uma memória privilegiada e a perda dessa característica foi muito impactante para mim. Nesta mesma exposição, criei uma assemblage feita com dezenas de cachepôs de vidro, como aquários, cada um com uma pessoa posicionada no se interior e com os vidros conectados entre si. Elas se viam, mas não podiam se tocar (em 2016 já prevendo a pandemia de Covid rsrsrr).
Participei, em 2016, de uma exposição (que devo falar mais na frente) que foi muito emblemática pra mim. Foi em Paraty, com o coletivo Colagistas Sin Fronteras (que reunia colagistas do Brasil, Uruguai e Argentina) e cujo tema era “O Outro”. Eu desenvolvi uma série de 7 obras, impressas em A2, que se chamava “A fronteira da memória e a subversão da ponte” onde eu abordava a perda da memória ligando elementos separados entre si, por pontes. Levei 1 ano fazendo essa série. Ela veio da gigantesca perda de memória da tia avó que eu mencionei acima e que veio a falecer alguns anos depois. Essa senhora sempre teve uma memória privilegiada e a perda dessa característica foi muito impactante para mim. Nesta mesma exposição, criei uma assemblage feita com dezenas de cachepôs de vidro, como aquários, cada um com uma pessoa posicionada no se interior e com os vidros conectados entre si. Elas se viam, mas não podiam se tocar (em 2016 já prevendo a pandemia de Covid rsrsrr).
Quais são suas fontes de inspiração?
Tudo é fonte, mas em tempos de excesso de distrações digitais traz esse “tudo é fonte” pode te paralisar.
Já me peguei várias vezes nesse local de paralisia por excesso de informação, então hoje eu preciso me policiar muito. Ando (desde sempre) com um caderninho pequeno na bolsa porque ele me ajuda a selecionar o que vale a pena. Se estou andando na rua, ou parada numa praça, ou no ponto do ônibus e algo me chama a atenção, procuro registrar escrevendo/descrevendo ou desenhando rapidamente. As vezes passo anos sem abrir esses depositórios, mas quando abro parece que me acende uma luz, puxo o fio de raciocínio que tive quando fiz o registro. Posso ler algo me chama atenção, posso ver uma forma, uma cor, a posição deu um objeto. Tanto “coisas” quanto palavras podem ser um start para começar um trabalho.
Vou dar um exemplo que lembrei agora: estou querendo retornar a terapia e ao amadurecer essa ideia, e de como pode ser profundo e doloroso se abordar alguns temas nas consultas, pensei que poderia trazer esse significado de "terapia/busca/encontro" para um objeto físico, então comecei a criar esferas colando tiras e tiras de papéis rasgados manualmente, umas sobre as outras, para serem “descascadas” pelas pessoas. No seu interior, haverá sempre algo. Você consegue perceber a dificuldade em descamar finas tiras de papel coladas, que se rasgarão disformemente, com mais ou menos velocidade, até se chegue ao fundo, ao centro, ao princípio? Te digo que não é nada fácil.
Já me peguei várias vezes nesse local de paralisia por excesso de informação, então hoje eu preciso me policiar muito. Ando (desde sempre) com um caderninho pequeno na bolsa porque ele me ajuda a selecionar o que vale a pena. Se estou andando na rua, ou parada numa praça, ou no ponto do ônibus e algo me chama a atenção, procuro registrar escrevendo/descrevendo ou desenhando rapidamente. As vezes passo anos sem abrir esses depositórios, mas quando abro parece que me acende uma luz, puxo o fio de raciocínio que tive quando fiz o registro. Posso ler algo me chama atenção, posso ver uma forma, uma cor, a posição deu um objeto. Tanto “coisas” quanto palavras podem ser um start para começar um trabalho.
Vou dar um exemplo que lembrei agora: estou querendo retornar a terapia e ao amadurecer essa ideia, e de como pode ser profundo e doloroso se abordar alguns temas nas consultas, pensei que poderia trazer esse significado de "terapia/busca/encontro" para um objeto físico, então comecei a criar esferas colando tiras e tiras de papéis rasgados manualmente, umas sobre as outras, para serem “descascadas” pelas pessoas. No seu interior, haverá sempre algo. Você consegue perceber a dificuldade em descamar finas tiras de papel coladas, que se rasgarão disformemente, com mais ou menos velocidade, até se chegue ao fundo, ao centro, ao princípio? Te digo que não é nada fácil.

Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?
Sobre os materiais, uso revistas, que são hoje um objeto raro de se encontrar, infelizmente. As boas revistas estão sumindo. Só encontro através de amigos que querem se desfazer das suas ou em sebos - saudade das bancas cheias de revistas maravilhosas.
Para as assemblages dou preferência para a madeira, o metal e o vidro. Evito muito o plástico. Coleto algumas coisas que encontro na rua, cartas de baralho – tem épocas que tem muita carta no chão, não sei por que rsrsrsr, pedacinhos de papéis, chaves e qualquer coisa pequena que seja fácil de guardar.
Sobre a técnica, sempre é colagem (digital ou manual), e dentro da colagem (manual) existem diversas técnicas. O grande Jiří Kolář - artista plástico e poeta tcheco e considerado um dos nomes mais representativos da arte do século XX, e cuja obra fui conhecer através do Maurico Planel, criou e nomeou muitas delas como: Rollage, Prollage, Froissage, Anti-collagem.
Para as assemblages dou preferência para a madeira, o metal e o vidro. Evito muito o plástico. Coleto algumas coisas que encontro na rua, cartas de baralho – tem épocas que tem muita carta no chão, não sei por que rsrsrsr, pedacinhos de papéis, chaves e qualquer coisa pequena que seja fácil de guardar.
Sobre a técnica, sempre é colagem (digital ou manual), e dentro da colagem (manual) existem diversas técnicas. O grande Jiří Kolář - artista plástico e poeta tcheco e considerado um dos nomes mais representativos da arte do século XX, e cuja obra fui conhecer através do Maurico Planel, criou e nomeou muitas delas como: Rollage, Prollage, Froissage, Anti-collagem.
Quem são as influências artísticas que impactaram seu trabalho?
Apesar de trabalhar com colagem, evito olhar colagens rsrs.. Olho mais para artistas da pintura como o Eduardo Berliner, Cadu. Adoro ver os trabalhos recentes do gravador, ilustrado Rubem Grilo e todos do ilustrador Lula Palomanes. De colagem posso te dizer que me divirto muito com os trabalhos do Russian Collage - rsrs. A estética do Mauricio Planel e do Samuel Eller são muito boas, os trabalhos são muito bem resolvidos tanto em relação a composição visual quanto em temática. Os dois têm muita constância no seu trabalho.
Qual é o significado da arte em sua vida?
Minha forma de comunicação se baseia no ato de “quebrar e colar” porque essa dinâmica reflete a própria vida. Somos todos feitos de fragmentos reconstituídos. A arte - seja colagem, pintura, desenho, escrita, canto ou dança - é mais uma maneira de traduzir essa realidade. Quando diferentes linguagens se sobrepõem para expressar ideias semelhantes, os mesmos cacos se reorganizam de novas formas, criando composições múltiplas e ampliando nossas percepções. A arte é uma porta que leva a outra, e a outra, em um caminho de descoberta.

Que conselhos você ofereceria para artistas que estão começando?
Conselho só serve pra gente mesmo rsrsrs, por isso fico de certa forma mais confortável em dá-lo, porque o que falo tento aplicar nos meus dias de procrastinação... meu conselho é: comece agora, com o que você tem a mão. Não espere que a hora certa chegue ou que o material certo seja comprado. Não espere que o professor mor apareça ou que a inspiração desça sobre sua cabeça. Comece agora, hoje, nesse momento, e use o que vc tem disponível ao seu redor. Muitas vezes só um cotoco de lápis basta. O pensar em fazer não levará a lugar algum. O fazer hoje é que te leva.
Você participou de alguma exposição marcante que gostaria de compartilhar?
Participei de várias exposições ao longo desses anos, não só Brasil, mas também na Polônia, Espanha, Uruguai, Peru... quase todas coletivas.
Exposições são um grande exercício de foco. É sempre um processo longo, onde você precisa saber exatamente o que quer.
Como falei anteriormente, a exposição em Paraty - 2016 foi uma imersão dentro da questão da “memória”. A primeira exposição internacional também é um marco – foi na galeria Pera de Goma, no Uruguai. Da mesma forma a primeira individual funciona como um termômetro, foi na galeria do Espaço Sérgio Porto – RJ com a série “Texturas de um Sistema”, onde apresentei 26 obras digitais em diversos formatos com trabalhos feitos para uma coleção de livros.
Exposições são um grande exercício de foco. É sempre um processo longo, onde você precisa saber exatamente o que quer.
Como falei anteriormente, a exposição em Paraty - 2016 foi uma imersão dentro da questão da “memória”. A primeira exposição internacional também é um marco – foi na galeria Pera de Goma, no Uruguai. Da mesma forma a primeira individual funciona como um termômetro, foi na galeria do Espaço Sérgio Porto – RJ com a série “Texturas de um Sistema”, onde apresentei 26 obras digitais em diversos formatos com trabalhos feitos para uma coleção de livros.
Para saber mais sobre o artista ou entrar em contato
Website: www.marciaalbuquerque.com
Instagram: @marcia.albuquerque.5



