Samuel Eller, mineiro, residente na região metropolitana de Belo Horizonte. designer gráfico e professor em design. Um artista gráfico e colagista que torna fragmento todos os produtos midiáticos do seu tempo, um processo criativo, que dá sentido à sua forma de pensar e fazer arte. Para Eller, o que mais lhe atrai na arte da collage é o fato de saber que seu processo criativo não segue regras nem mesmo um planejamento prévio, ela acontece pela espontaneidade dos encontros entre fragmentos de letras/palavras e imagens. Para ele, o devir da criação é resultado da pesquisa: "é preciso pesquisar muito, amo a situação da investigação, é por meio dela que consigo registrar, ajuntar, amontoar, acumular em excesso tudo o que me está dado a ver".
Samuel Eller, artista gráfico e colagista mineiro, que torna fragmento todos os produtos midiáticos do seu tempo, um processo criativo, que dá sentido à sua forma de pensar e fazer arte. O que mais lhe atrai na arte da collage é o fato de saber que ela não segue regras nem mesmo um planejamento prévio, ela acontece pela espontaneidade dos encontros entre fragmentos de letras/palavras e imagens.
Obra de arte de Samuel Eller - Miss U, 2022 - Collage Analógica - recortes de imagens impressa

De que maneira começou sua jornada no mundo da arte?

Em 1988, ainda adolescente, eu comecei a desenhar para uma empresa de serigrafia, lá eu comecei a ter contato com o universo das imagens – criação e técnicas de reprodução de imagens – A paixão pelo design gráfico editorial, que despertava em mim, me levou a estudar design gráfico. Depois que me formei, eu percebi que precisava ter um exercício próprio de criatividade, para aprimorar minhas habilidades e colocar em prática os estudos teóricos e as descobertas que até então vinha fazendo. Eu precisava me dedicar a demandas pessoais que fossem uma necessidade diária de criação, foi a partir de então que comecei a criar cadernos de processos, com a linguagem e técnica da collage, em que eu experimentava de tudo um pouco.
Obra de arte de Samuel Eller - Caravaggio comia faisão, 2019 - Collage de Mixed Media

Como é o seu processo criativo?

Eu sou um artista gráfico e colagista com deformação no olhar, um cara que tem ganância em ver, gosto de ver de tudo, tenho um olhar de lupa, sou do tipo que levanta folhas, cacos e pedras para ver o ínfimo. Eu gosto de trazer à tona todas as coisas que estão escondidas ou esquecidas debaixo ou dentro de outras coisas, que foram descartadas, pois elas querem que eu me importe com elas. Daí é que inicia meu processo criativo, uma paixão por criar algo usando ruídos, sujeiras, fragmentos, sobras de textos e imagens, convertendo-se em um poema visual, que completa ou pode ser complementado pelo sentido desenvolvido no texto verbal ou não verbal que se manifesta na collage. Para mim, é assim que se abre o devir poético da criação, assim acontece a arte da collage, quando eu consigo fundir collage e poesia numa mesma superfície. Quando eu aproximo fragmentos de letras e palavras com fragmentos de imagens, para mim, resulta numa espécie de sistema fonético, ou uma sintaxe analógica, uma arte cheia de cacofonia, cicios e balbucios. Por isso, percebo que ao fazer collage, também estou criando poesia visual, em que a mensagem pode ser obtida de forma inusitada, e algumas destas collages acabaram resultando em uma poesia visual, que não necessariamente retrata a collage.

Quais são suas fontes de inspiração?

Sou raptado para ver coisas até mesmo quando não quero ver, alimento meu olhar na literatura e poesia, no cinema, fotografia, música, design, na publicidade entre outros lugares por onde levo meu olhar para passear. Eu sou muito influenciado pelas ideias dos artistas modernistas e vanguardistas e, também, pelo conceito do estranhamento inquietante, da subversão e traição das imagens, das distorções e deslocamentos de sentidos contidos na produção artística daquele período. Tudo que li, recolhi e apreendi a respeito, me leva a experimentar, cortar, rasgar, desconstruir, ressignificar, tornar fragmento todos os produtos midiáticos do meu tempo, assim como fez os futuristas, dadaístas, surrealistas, construtivistas, e todos que, de certa forma, foram minha escola de composição, esses deram sentido à minha forma de pensar, ser e fazer design e também collage. Hoje eu faço collage pelo simples prazer de exercitar a minha criatividade.
Obra de arte de Samuel Eller

Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?

Eu gosto de usar qualquer tipo material impresso que não tem mais serventia, busco por todas as coisas que foram descartadas. Eu gosto mesmo é de experimentar, então na minha collage é possível ver uma grande mistura, tanto para as collages analógicas, quanto para as collages digitais. Procuro trazer para os meus processos criativos experimentos com tintas, monotipias, carimbos, manchas, sujeiras e ruídos gráficos, além de experimentos com impressão tipográfica e também em serigrafia. Eu gosto das interferências que causam o estranhamento e o incomodo visual. Alguns fragmentos que uso, em certas composições, não necessariamente vieram dos impressos que garimpo em lojas que vendem livros e revistas antigos, as vezes são fragmentos que fotografei ou coletei dos impressos colados nos espaços urbanos, que sofreram uma degradação natural ou espontânea, e as ruas estão cheias de grande ideias, mas requer contemplação.

Quem são as influências artísticas que impactaram seu trabalho?

Eu comecei a estudar a arte da collage e, principalmente, a fazer collage em 1996 ainda quando estudava Design Gráfico. Quando estudei sobre os Futuristas me apaixonei pelos experimentos de composição que eles fizeram com o uso da tipografia móvel. Seu lema Les mots en liberté  - “As palavras em liberdade” -, me fez aproximar da poesia visual, poesia concreta e poema processo. Daí vem o uso constante da letra/palavra como fragmento em minhas collages. No mesmo período fui de encontro aos pensamentos dos artistas dadaístas e os surrealistas, que me levaram a fazer subversões com imagens. Até que descobri o artista Kurt Schwitters, o seu pensamento e sua arte, talvez tenha sido a minha maior escola de criação e composição, o meu olhar sobre as coisas do mundo mudou completamente depois que me aproximei da sua arte.

Qual é o significado da arte em sua vida?

Para mim arte significa saber ver, como explica Paul Klee “A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver”. A arte e tudo que está associado a ela, me ensinou a ver e absorver as coisas do mundo, para rever e pensar todas coisas que vejo, e depois, em meus processos criativos, poder associá-las e deslocá-las do seu sentido usual, transformando-as em coisas novas. A arte da collage, especificamente, me permite destorcer tudo o que vejo.
Obra de arte de Samuel Eller

Que conselhos você ofereceria para artistas que estão começando?

Leve seu olhar para passear, seja um flâneur, saia por ai recolhendo textos e imagens que compõe a existência de tudo que te cerca, experiencie as coisas do mundo – deguste, sinta o sabor de saber. Seja ganancioso do olhar. Visite museus, sebos, fotografe paisagens, observe uma trilha de formigas, viaje, veja bons filmes leia um poema por dia - acompanhado de um bom vinho ou de uma boa companhia. Depois, sente-se e crie algo que sintetize tudo que você viu e absorveu.

Você participou de alguma exposição marcante que gostaria de compartilhar?

Como colagista, em 2019, publiquei um artigo e algumas de minhas collages na revista canadense Kolaj Magazine - edição #24. O Instituto Kolaj é hoje a mais importante instituição no mundo que promove, incentiva e divulga a collage como meio, gênero e movimento artístico do século XXI. Depois desta publicação, fui convidado para participar de inúmeros exposições e publicações coletivas como: Strike A Light – Matchbox Open Call 2020, produzido pelo Edinburgh Collage Collective. Convidado para expor na Galeria Online Sharp Hands Collage Latino-Americano. Fui um dos 3 brasileiros selecionados para participar do International Collage Festival Rezh da Kley - “MY OWN GAME”, na Rússia. Participei da Exposición: Hábitat, Una Sola Tierra do Centro Cultural da Universidade de Lima - Peru. Colagista convidado pelo artista e curador Harm Van Ee para a exposição Collage PeepShow na Galeria De Vishal, em Haarlem/Holanda. E também me tornei designer colaborador da 46PGs. Magazine da Croácia.

Para saber mais sobre o artista ou entrar em contato

Instagram: @samuel.eller

 

Obra de arte de Samuel Eller

 

Obra de arte de Samuel Eller

 

Obra de arte de Samuel Eller

Para compartilhar com seus amigos