Andrea Portela é uma artista contemporânea. Nasceu em Minas Gerais, mas viveu em diferentes regiões do Brasil, conquistando uma sensibilidade única. Foi figurinista e atuou na carreira acadêmica, sempre conectada à arte publicando textos em revistas e livros. Falou do ato de vestir como ato criador de uma performance vestível. Foi a primeira pesquisadora a explorar a coleção de roupas do Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora – MG, onde vive. Até que a inquietude de criar se tornou inevitável, se dedicando exclusivamente à exploração artística. Hoje participa de coletivos e exposições de arte.

Andrea Portela é uma artista brasileira. Designer por formação, mestra em Estudos de Cultura Contemporânea e doutora em Ciências Sociais. Desde cedo esteve envolvida em atividades criativas. Hoje atua em diferentes coletivos de arte, na pintura, gravura ou processos híbridos. Se interessa pelo tempo presente e por micro acontecimentos que podem se dar tanto no imaginário quanto no cotidiano.

De que maneira começou sua jornada no mundo da arte?
Tive na infância um chão para pisar descalça na cidadezinha de Miraí, nas Minas Gerais, lá onde a simplicidade e a beleza fomentaram minha curiosidade, fonte inesgotável de inspirações que corriam soltas e até hoje me cutucam. Via desenhos nas nuvens e nas paredes, e recebia encomendas de desenhos que eu aceitava fazer sem compromisso com o saber. Vivi em diferentes lugares do Brasil e o traço selvagem sempre carreguei comigo, por mais que os livros e as técnicas tenham me atravessado.
Como descreveria seu estilo artístico?
Acho que possuo uma diversidade estilística, falo "acho" por não ser afeita a definições. E, apesar de sempre querer fazer algo novo, as pessoas sabem identificar o que faço. Creio que por ser espontâneo. Não forço a identidade nem o estilo, mas existe uma conversa com o Expressionismo abstrato. Talvez por deixar o corpo todo trabalhar, tornando o gesto carregado de emoção.

Quais temas prefere explorar em suas obras?
Tudo o que meu olhar alcança pode ser tema, mas tenho preferido escutar o pensamento porque anda povoado de inquietações e preciso externá-las ou amenizá-las, depende do momento. Sou uma pessoa preocupada com as questões ambientais, sociais, políticas. Enfim, vivo o meu tempo, que é complexo, inquietante e desafiador. Visualmente, as questões andam se misturando, se embaçando, tomando o rumo das abstrações. Tudo é meio indefinido porque parte sou eu fazendo escolhas, outra parte é o trabalho que me pede.

Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?
Acrílica, carvão, pastel e aquarela são o que tenho usado mais ultimamente. Sou apaixonada pela xilogravura! De vez em quando, crio um ritual à parte para me aventurar na madeira. Também gosto de fazer experiências com materiais inusitados que encontro, colagem, bordado, e tenho realizado testes com pigmentos naturais que eu mesma preparo. Nos meus processos, a desconstrução e a intuição ditam os caminhos.
Quem são as influências artísticas que impactaram seu trabalho?
É sempre bom procurar referências, dialogar esteticamente com outros artistas e receber suas influências, como se dialogássemos com a própria História da Arte. Que é o que fazemos, de algum modo. Eu já falei do Expressionismo abstrato, mas não é só. Gosto de toda movimentação artística dos anos 1960 para cá. E me mantenho aberta a observar um pouco de tudo, afinal, a arte é universal e atemporal. Sempre faço uma lista para admirar e a troco eventualmente, pois se fosse fixar seria infinita. Segue uma lista atualizada: Willem de Kooning, Antonio Berni, Lygia Clark, Lasar Segal, Kathe Kollwitz, Gerhard Richter, Sigmar Polke... Gosto assim, tudo diverso. São as cores, as temáticas sociais, o modo de relatar o tempo em que viveram, tantas coisas. Os artistas podem e devem mudar nessa lista, o que fica são suas contribuições que vamos incorporando intuitivamente.
Qual é o significado da arte em sua vida?
Eu tenho a arte como registro do viver, como uma forma de contar a minha história e, ao mesmo tempo, me esconder. É meu pensamento experimentando um pouco de liberdade. Onde posso transformar o banal em algo digno de contemplação. Meu laboratório de explorar sentidos, denunciar o presente, projetar os sonhos e, quem sabe, um futuro possível.

Como você se mantém atualizado sobre as tendências do setor?
Acredito na força dos coletivos e participo de várias comunidades de artistas. Apesar da atividade nas redes sociais ser necessária para informações circulantes, eu invisto no estudo constante, na leitura de revistas especializadas e nas trocas presenciais com um bom mestre e outros artistas. O que, para mim, são práticas indispensáveis e devem ser constantes.
Qual é o papel do artista na sociedade de hoje?
Eu tenho a arte como ato de coragem e liberdade numa sociedade desigual que, cada vez mais, cerceia o livre pensar. Os meios digitais agravam a situação por serem uma ferramenta poderosa de persuasão, muito além de te mandarem comprar, andam ditando o que dizer, fazer, sentir, achar, acreditar. Espaço farto de mentiras e alienação. Sou a favor da tecnologia, a minha questão é sobre a violência do convencimento e da escravidão do pensamento. Como romper com tudo isso, pensar por si mesmo e enxergar mais o real? A arte não fala alto, não discute. Ela te sensibiliza, desperta e, sutilmente, te faz ver. É da ordem das micropolíticas. Diante de um momento tão perigoso, com a humanidade sofrendo os efeitos das mudanças climáticas e da ascensão do neofascismo, a arte é um instrumento poderosíssimo de informação e luta, desde que seja a luta pelo mais fraco ou se torna mais um mecanismo de opressão. Então, o papel do artista é se posicionar por uma sociedade mais justa e igualitária.


