Especialmente entre 2023 e 2024, a produção do artista Gilberto Marques tem se voltado para uma reflexão sobre materialidade, pertencimento, presença, tempo e memória. Nesse percurso, a revisão e transformação de obras anteriores evidenciaram a relação entre tempo e memória, fixando esses elementos como eixos centrais na discussão sobre “valor”. Esse processo criativo e de produção revelou ao artista a amplitude de possibilidades que emergem da investigação, possibilita a construção das formas e passa a ser compreendida como um mapeamento de origens, temporalidade e mutação, onde elementos se conectam para dialogar sobre matéria, gesto, movimento, cor e espaço.
Essa abordagem permite tratar o tempo e memória em camadas sobrepostas, seja em uma única obra, seja no conjunto da produção, que se estrutura como um projeto contínuo de pesquisa e ressignificação.
Artista Plástico pela FAAP (SP), desenvolve seu trabalho na cidade de SJCampos – SP. O volume e a abstração estão presentes entre os elementos visuais da sua sobra e evocam sensação de espaço, de vazio e de presença, e questionam o pertencer, o estar, o tempo, a memória, sob a ótica de “valor. Abre mão de suportes tradicionais e cria seus próprios materiais, a partir de coleta e reciclagem.
Obra de arte de Gilberto Marques - Pele, 2024 - Escultura (plástico moldado a quente – 720 potes de plástico fundidos em placas de 30 x 35 x 1cm, madeira e placa de papelão)

Como descreveria seu estilo artístico?

Interessante que vejam minha obra sob o guarda chuva da Pop Art e Robert Rauschemberg. Compartilho com Duchamp um interesse em subverter o sistema de arte, de algum modo, mas especialmente o modo de ver o "local adequado para a arte". No entanto, pessoalmente, prefiro a sombra de Hélio Oiticica e Nelson Lerner, já descolando do pós concretismo. De todo modo, sou um artista visual contemporâneo, totalmente influenciado pela arte pós moderna.
Obra de arte de Gilberto Marques - Pele, 2025 - Digital (foto de detalhe da obra em processo)

Quais temas prefere explorar em suas obras?

Nos últimos anos, especialmente entre 2023 e 2024, a minha produção tem se voltado para uma reflexão sobre materialidade, pertencimento, presença, tempo e memória, Nesse percurso, a revisão e transformação de obras anteriores evidenciaram a relação entre tempo e memória, consolidando esses elementos como eixos centrais numa discussão sobre “valor”.
O processo criativo e de produção da obra Encapsulado (2024) me revelou a amplitude de possibilidades que emergem dessa investigação, possibilitando a construção das formas, passa a ser compreendida como um mapeamento de origens, temporalidade e mutação, onde elementos se conectam para dialogar sobre matéria, gesto, movimento, cor e espaço.

Como é o seu processo criativo?

Costumo dizer que antes de mais nada, mental. Didaticamente, começa mentalmente, como se estivesse juntando todas as informações, referências, materiais e processo construtivo num emaranhado de imagens, de onde costuma surgir uma imagem ou composição. Depois, a escrita, quando passo a descrever para mim mesmo o conceito, ou a história, produto, o que seja. Depois, coleta de materiais, fabricação, adaptação, reuso....Por fim, a produção em si, a construção da obra. Já nem uso o termo ateliê, mas sim, oficina, dada a característica do "fazer, construir" a obra.

Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?

Frequentemente estou às voltas com colagem e assemblages. Ocorre que o espaço bidimensional já não estava suportando mais o volume que eu estava imprimindo aos trabalhos. A escultura me permite essa transgressão, própria da técnica, claro. É fato que exploro bastante a parede, espaço bidimensional, como suporte dessas esculturas, criando uma relação figura fundo diferente do esperado. Papelões diversos, caixas de embalagem, madeira, resíduo plástico, ferragem, linhas e cordões, spray, tintas industriais, materiais preferencialmente de coleta ou reciclagem são os que atualmente uso na produção das minhas obras.

Qual é o significado da arte em sua vida?

Pode parecer clichê mas posso afirmar categoricamente que arte salva. Para o artista que sobreviveu a uma depressão severa, que está passando o melhor momento criativo da sua carreira aos 62 anos, e enfrentando todo tipo de adversidades que o momento atual impõe, não haveria outro caminho senão a arte. Isso é muito particular e pessoal, mas a arte é a fonte de energia que me mantem vivo, ativo, resiliente, empático, esperançoso. É ela que me permite novas experiências, novos discursos, diálogos. Através dela consigo dar nomes e novos nomes à minha realidade. É ela a principal barreira que mantém segura minha reserva emocional.
Obra de arte de Gilberto Marques

Que conselhos você ofereceria para artistas que estão começando?

Sempre que começo uma conversa com artistas que estão começando ou iniciados que se sentem perdidos no caminho, lanço uma pergunta: "Que artista você quer ser"? é a partir dessa pergunta e todo o diálogo que segue que a gente vai construindo junto um consenso, mais que um conselho. Obviamente porque o que é bom para mim pode não ser para o outro. Nessa construção vamos perguntando e respondendo, não somente sobre arte, mas sobre a vida. É desse diálogo que normalmente nasce a nova persona, com visão e clareza do artista buscará ser. A partir daí é possível acrescentar: preocupa-se com a gestão da carreira; estude, pesquise, experimente; produza consistentemente; exiba sua arte; busque mentorias e opiniões profissionais; submeta sua obra e produção a salões e editais. E o principal, aproveite o processo!!

Para saber mais sobre o artista ou entrar em contato

Instagram: @gilbertomrc

 

Obra de arte de Gilberto Marques

 

Obra de arte de Gilberto Marques

 

Obra de arte de Gilberto Marques

Para compartilhar com seus amigos