Artista visual brasileira, transita entre gravura, arquitetura e instalações. Mestra pela USP, doutoranda pela UNESP, possui obras em acervos como o Banco Mundial (EUA) e o MAM-Rio. Desde 2013, desenvolve com Renzo Assano a “Casa Fortaleza” (Ubatuba/SP), residência de aço que utiliza técnicas sustentáveis e dialoga com a Mata Atlântica. A casa, inacabada e em contínua metamorfose, é um “corpo-devir” onde arte, vida e pensamento se fundem. Em 2023, concluiu a tese “Casa Fortaleza: o livro de artista como transversalidade poética”, síntese de uma década que entrelaça arquitetura, memória e acontecimento estético. Seu processo celebra a resistência como potência crítica. Na gravura, rompe com matrizes tradicionais, criando impressões únicas com sobreposições de cor. Co-fundadora do coletivo feminista GOMA e do heterônimo A, questiona hierarquias de gênero na arte.
Artista visual com pesquisa voltada para a gravura, investiga os processos criativos como ato vital. Em 2013, dedicou-se à construção de uma casa-ateliê, uma obra em constante transformação, feita pelas próprias mãos da artista. A casa é um corpo inacabado onde o ato de construir se torna uma prática estética. Sua arte é concebida como um organismo que integra vida, pensamento e matéria.
Obra de arte de Lailà Terra - Sem Título, 2024   - Encáustica sobre tela
Obra de arte de Lailà Terra - Sem Título, 2019 - Xilogravura (reduction print) com 10 cores sobre papel. Tiragem única

Como é o seu processo criativo?

Meu processo criativo é profundamente influenciado por uma pesquisa poética que se desdobra entre a experiência e a prática. Ao longo dos anos, tenho buscado compreender como a interação entre o ser vivo e as condições ambientais molda a vivência (tema da minha tese de doutorado), entendendo a experiência como um fluxo contínuo e dinâmico.
Acredito que é nos momentos de conflito e resistência que essa interação se intensifica, transformando a experiência por meio do sensível e das ideias. Esses aspectos do eu e do mundo, em constante diálogo, dão origem a uma intenção consciente, que se manifesta no meu trabalho criativo.
Reconheço a importância de contemplar essas práticas e experiências, como potência para a criação. Para mim, o ato de refletir sobre o vivido e o sentido é tão crucial quanto o próprio processo de viver. É nesse equilíbrio entre a intuição e a análise, entre o sensível e o teórico, que meu processo criativo encontra sua força e singularidade.

Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?

Minha pesquisa gráfica é extensa, abrangendo diversas técnicas de impressão, tanto planográficas, como litografia e serigrafia, quanto gravuras, com ênfase na xilogravura, mas busco subvertê-las: uso furadeiras para talhar matrizes em madeira, explorando a Mokulito (técnica japonesa que mistura madeira e litografia) e litografia em alumínio – métodos que desafiam a previsibilidade da impressão.
Nas instalações, trabalho com materiais insurgentes: robôs aspiradores que criticam o trabalho invisível, esculturas em taipa de pilão (terra crua compactada) que dialogam com a impermanência, e objetos sonoros que transformam o espaço em organismo vivo.
Atualmente, estou desenvolvendo uma série de pinturas sobre tela, nas quais utilizo encáustica (tinta óleo com cera de abelha), no qual estou produzindo minhas próprias tintas e bastões de óleo (oilsticks).

Quem são as influências artísticas que impactaram seu trabalho?

MierleLadermanUkeles é central: artista estadunidense que, nos anos 1960, após ser mãe, desmontou a dicotomia entre arte e trabalho doméstico no “Manifesto da Arte de Manutenção”. Nele, ela propõe que; cuidar da casa, dos filhos, da vida; é ato criativo tão radical quanto esculpir ou pintar.
Ukeles transformou tarefas invisíveis em performances e intervenções urbanas, questionando por que a arte celebra a ruptura, mas ignora a persistência do manter. Sua obra é um farol para mim, artista mulher e mãe, para quem a manutenção não é oposta à criação – é sua geografia.
Seu legado é revolucionário, mas subvalorizado. Enquanto Robert Smithson ganhava museus com SpiralJetty, Ukeles varria galerias em performances. A diferença de reconhecimento revela o sistema patriarcal que hierarquiza "obra-prima" e "trabalho de mulher".
Na minha prática, esse pensamento se traduz na gravura que registra marcas do cotidiano e na “Casa Fortaleza”, obra-ateliê erguida entre fraldas e pinturas. Não separo arte e vida: recuso o mito do gênio masculino que exclui o cuidado como matéria-prima.
Ukeles me ensinou que a arte é gesto acumulado – não o salto heroico, mas a repetição do prego batido, do bolo de chocolate, da matriz riscada. E hoje, quando uso um robô aspirador como performance, é ela quem me lembra: até na poeira há política.
Obra de arte de Lailà Terra

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Instagram: @terra.laila

 

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