Marina Prudencio (Porto Alegre, 1996), graduada no bacharelado de Artes Visuais pela UFRGS, é uma artista plástico-visual voltada especialmente à pintura em tinta acrílica, mas também ao desenho em grafite e eventualmente outras mídias. Sua linguagem pictórica e gráfica, tipicamente figurativa, tende a focar sobre temas de cotidiano urbano, introspecção e metalinguagem visual. Participou das exposições coletivas: "Corpografias: Mapeando o feminino" (2018), na UNIPAMPA, Bagé; "Transitoriedades" (2018), no Espaço Ciência e Cultura Profª Alba Theumann, no Instituto de Física da UFRGS; e do 19º Salão Nacional de Arte (2022), no Museu de Arte Contemporânea de Jataí, Goiás. Realizou sua primeira individual no Instituto de Artes da UFRGS, no Espaço Ado Malagoli: "Transeuntes" (2019), cuja produção culminaria em seu homônimo Trabalho de Conclusão de Curso.
Marina Prudencio (Porto Alegre, 1996), graduada no bacharelado de Artes Visuais pela UFRGS, é uma artista plástico-visual voltada especialmente à pintura em tinta acrílica, mas também ao desenho em grafite e eventualmente outras mídias. Sua linguagem pictórica e gráfica, tipicamente figurativa, tende a focar sobre temas de cotidiano urbano, introspecção e metalinguagem visual.
De que maneira começou sua jornada no mundo da arte?
Ingressei no curso de Artes visuais em 2015, tendo-o concluído em 2019 sob orientação de Lilian Maus. Antes disso, minha introdução formal ao mundo das visuais se deu no curso de desenho Correndo Risco, com o ministrante Wilson Cavalcanti, do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, em 2013, ano em que também concluiria meu Ensino Médio. Entretanto, meu interesse pela criação artística se deu desde muito cedo. De alguma forma, descobrir a minha própria linguagem visual andou ao lado da minha formação como pessoa. Tendo sido estimulada desde cedo no meu ambiente familiar, estava todos os dias com papel e lápis em mãos. Passei a ser frequentadora de museus e galerias somente a partir do meu ingresso na educação formal específica em artes em 2013; porém, sempre fui tão fã quanto artista, e foi pela Internet que passei primeiro a acumular conhecimento e admiração sobre a área ao colecionar arquivos de imagens.
Quais temas prefere explorar em suas obras?
Desde 2018, passei a explorar a questão do cotidiano urbano através de imagens de referência que capturava clandestinamente pela câmera do meu celular, e as reproduzia na forma de pintura em tinta acrílica sobre tela. O ponta-pé inicial desta produção se deu numa cadeira de pintura ministrada pela Lilian Maus no Instituto de Artes, professora que também me orientou no meu TCC e que, inclusive, incluía boa parte da produção desta disciplina. Também passei a me apropriar de capturas de tela do jogo GeoGuessr, que usa a visão da rua do Google Maps para exploração e adivinhação de localizações no mundo. Além de pensar sobre como dispositivos tecnológicos comuns ajudam na criação artística, também quis nesse processo enfatizar a distância que temos uns com os outros, mesmo com a proximidade física; ou como podemos estar em contato com a imagem de alguém em seu cotidiano do outro lado do mundo. O fazer da pintura torna-se, então, como uma espécie de meditação sobre nós mesmos e nossa relação com o outro ao desacelerar o olhar, e também se manifesta como filtro de realidade: o filtro (pintura) do filtro (imagens fotográficas capturadas em dispositivos móveis). Tanto o fazer quanto a contemplação sobre imagens se tornam percepções únicas. Após a conclusão do TCC, houve o período de pandemia e, aí, voltei-me para minha própria imagem, enfatizando o lado introspectivo que sempre esteve presente no meu trabalho; entretanto, nunca deixei de pensar sobre o outro.
Quais são suas fontes de inspiração?
Minha principal fonte de inspiração é o cotidiano, o banal, e como isso pode ser subvertido através da transformação imagética. O ócio é particularmente inspirador, pois é nele em que as ideias podem fluir, desocupadas mas, ao mesmo tempo, ricas de função e utilidade. Ao contrário da percepção comum, o descanso (ou o "nada") é muito útil e produtivo. Nas minhas obras, há muito daquilo que se chama "fazer nada", seja ao andar no transporte público, esperar na sala de espera, ou aproveitar breves momentos íntimos consigo mesmo ou com alguém. O que a arte e o ócio têm em comum é a contribuição para um bem-estar que nos energiza para quando precisamos usar os nossos corpos para a subsistência.
Quais materiais e técnicas você usa com mais frequência?
Costumo usar a pintura em tinta acrílica, particularmente por ser conveniente a um ambiente caseiro, como é o meu ateliê, além do processo rápido de secagem e versatilidade do material. Gosto de pintar sobre telas, em várias camadas finas (aumentando a espessura conforme convir, especialmente nas últimas camadas), para criar uma imagem "com corpo" e complexa. Recentemente, tendo voltado ao desenho em grafite, que era a minha técnica de escolha antes de focar na pintura. Sinto que o costume da pintura influenciou o meu desenho atual, no sentido de construir a composição em camadas e não depender de traços imediatistas. Ao menos, é essa a minha mentalidade hoje em dia: produzir em menos quantidade e de forma mais vagarosa. Entretanto, sinto-me em perpétuo movimento e isso pode se alterar. Gosto de desenhar sobre papéis de gramatura maior, de 120g a 300g. Tenho incluído o esfuminho para criar uma camada mais difusa, reintroduzindo por cima a textura do lápis, e usando o carvão em pontos estratégicos para escurecer e criar uma textura homogênea. Experimentei em alguns trabalhos desenhar sobre papel reciclado e envernizar parte do desenho, assim escurecendo e destacando com o brilho (que infelizmente não pode ser bem contemplado em reproduções).
Quem são as influências artísticas que impactaram seu trabalho?
Eu diria que sou influenciada a todo momento por uma diversidade de artistas, sempre se introduzindo novos ao panteão. Apesar disso, dá pra citar nomes específicos. Para a minha série Transeuntes, nomes óbvios são Edward Hopper, através de suas pinturas cheias de silêncio da modernidade estadunidense, e Vivian Maier, uma fotógrafa à margem cuja prática não dependia de nada além dela mesma e suas cenas urbanas. Mauro C. Martinez é uma referência importante para pensar a imagem digital na pintura. Gosto da obra do Daniel Coves pela tensão e mistério representadas em seus retratos sem rosto (nas minhas pinturas, costumo ocultar a identidade dos retratados). Por falar em retratos tensos e, mais especificamente, autorretratos, os de León Spilliaert foram uma influência tenra para mim e me impactam pela forma como costumo retratar a mim mesma. As pinturas de janelas da Zoey Frank me despertam curiosidade e contemplação como aquelas que costumo ter no dia-a-dia, só que através de um filtro bem espirituoso, ordenado e ao mesmo tempo expressivo. A expressividade e sinceridade também admiro na Käthe Kollwitz, ainda mais por representar o impacto individual e social do seu tempo. Quanto a artistas mais antigos, a nível de técnica, temática e/ou expressão, me influenciam Vermeer, Caravaggio, Goya e Velázquez.
Qual é o papel do artista na sociedade de hoje?
O papel do artista se altera moderadamente conforme à sociedade na qual ele se insere, Na minha percepção, o artista, atualmente, nos leva para além de uma suposta utilidade. É necessário viver para além da subsistência, e é na arte que encontramos ânimo e motivação, quaisquer estes sejam.